De catador de bituca a professor doutor




Começar a trabalhar como faxineiro em uma instituição e, depois de 30 anos, se aposentar no mesmo lugar, ocupando um dos mais altos cargos. Esta poderia ser a narrativa de uma novela diária, ou até mesmo de um livro com temática motivacional. Contudo, esta história é real, inspiradora e só foi possível graças ao estudo e à persistência de um homem, hoje com quase 80 anos e em plena atividade profissional.

Nascido em 1936, em Mirassol, região de São José do Rio Preto, e morando desde 1955 em Araçatuba, o cirurgião-dentista Walderício de Mello, mais conhecido como dr. Didi, é uma das provas de que o estudo é, muitas vezes, a única chance de se conseguir ter uma vida melhor. Ele é o primeiro personagem da série “A vitória pela educação”, que a Folha da Região inicia neste domingo, contando histórias de pessoas comuns que conseguiram mudar de vida após os estudos.

Aos 17 anos de idade, em busca de oportunidades de emprego, dr. Didi se mudou para São Paulo. Porém, o que encontrou por lá não foi nada daquilo que esperava. “Consegui trabalho em uma sapataria, era engraxate. Mas o lugar era muito longe de onde eu morava e, como não tinha dinheiro para tomar condução, eu ia a pé. O problema não era apenas a distância. Eu morava em um porão e, com o dinheiro era praticamente escasso, passei muito tempo comendo pão com banana como refeição principal”, lembra-se.

Depois de quase dois anos morando em São Paulo, dr. Didi resolveu voltar para casa, mas a família havia se mudado para Araçatuba, destino que também seguiu. Chegando aqui, exerceu atividades das mais variadas, desde trabalhos rurais até em um açougue, com a função de levar os animais para o abate.




OUTRO RUMO
Em meio a muitas dificuldades, foi só em 1959, aos 23 anos, quando começou a trabalhar na FOA (Faculdade de Odontologia de Araçatuba), como faxineiro, que sua vida começou a tomar outro rumo. “Eu me lembro que a rotina era bem puxada. Para se ter uma ideia, eu andava com um cabo de vassoura com um prego na ponta para pegar as bitucas de cigarros do chão. O diretor da época era muito exigente”, conta.

Após alguns anos trabalhando na limpeza e manutenção do prédio da faculdade, surgiu uma oportunidade no almoxarifado. “Eu trabalhava meio período na limpeza e o restante do tempo dava expediente no almoxarifado. Isso já era uma oportunidade de aprender algo novo.”

Nessa época, já com dois filhos e sem trégua nas dificuldades que a vida lhe empunhava, outra oportunidade surgiu. “A faculdade estava em plena expansão. A disciplina de medicina oral estava sendo implantada e a criação de um laboratório se fez necessária. Então, fui promovido para trabalhar no laboratório, onde começou, de certo modo, meu primeiro contato com a odontologia.



PROPOSTA
Logo após ser promovido na universidade, dr. Didi recebeu uma proposta para também trabalhar em um laboratório de análises clínicas da cidade, convite que prontamente aceitou. Porém, era necessário terminar os estudos, e os horários eram bem apertados.
“Eu comecei a trabalhar de manhã no laboratório da faculdade, na parte da tarde no laboratório São Paulo e durante a noite fazia curso supletivo para terminar os estudos”, recorda-se.
Dr. Didi conta que logo após terminar o curso supletivo, iniciou os estudos de magistério. “Eu concluí o magistério e, mesmo com o dia todo sem brechas, encontrei tempo para fazer os estágios, mas percebi que não seria feliz naquela profissão”, disse.

Aos 79 anos, dr. Didi ainda está na ativa, atendendo pacientes
Reportagem: Victor Ferreira
Fotos: Alexandre Souza
Edição: José Marcos Taveira

Folha da Região

"Vitória pela Educação" é uma série desenvolvida pela Folha da Região, jornal de Araçatuba que circula em 40 cidades do Noroeste Paulista.