Disciplina faz sonho por farda se tornar realidade




Um barracão velho de uma chácara, a disciplina oriental e um menino que sonhava em vestir uma das fardas das Forças Armadas do Brasil. A junção destes elementos mais a paixão pelos estudos fizeram com que Paulo Leite Augusto Motooka conseguisse mudar sua realidade. Atualmente, aos 46 anos de idade, ele ocupa uma das mais altas patentes da Polícia Militar do Estado de São Paulo.

Nascido no ano de 1969, em uma chácara no bairro Santana, em Araçatuba, Motooka, que hoje é major da PM, teve uma infância simples, cercada de privações e regras, condições que o ajudaram, anos depois, ao ingressar na carreira militar.

"Minha infância foi muito boa, porém, sem nenhum tipo de luxo. Meu pai era muito rigoroso. Tudo que eu desempenhasse, tinha que ser feito da melhor forma possível. Lembro-me que eu tinha que acordar por volta das 5h para dar comida às galinhas que criávamos na chácara", disse.

GIBIS
Matriculado aos sete anos na escola, Motooka recorda que sua paixão pela leitura começou antes mesmo de aprender a ler, pois ficava fascinado com as letras dos gibis que colecionava. "Eu ficava atrás da minha mãe para que ela lesse para mim. Meu fascínio não era apenas pelas figuras, mas pelo que vinha escrito ali. Eu queria ler, não me contentava apenas com a leitura que minha mãe fazia", lembrou.

Sempre entre os melhores alunos da turma, foi no início da adolescência que a paixão pela vida militar começou. "Eu tinha um tio que era oficial das Forças Armadas e ficava fascinado com os fardamentos dele. Assim surgiu o meu sonho de servir o Brasil", afirma.

Contudo, para realizar esse sonho, era preciso, de imediato, duas condições: estar cursando o colegial (hoje, ensino médio) e passar nas provas necessárias para o ingresso na carreira militar. Cumprir o primeiro item era apenas questão de tempo, pois quando o desejo se aflorou, Motooka estava na oitava série (equivalente ao 9º ano).

A segunda exigência, só dependeria de seus esforços. "Eu tinha pouco mais de um ano para estudar e fazer as provas. Foi aí que começou minha rotina de estudos. Como meu pai trabalhava fora, eu era responsável pela manutenção da chácara durante a semana. Eu acordava bem cedo, trabalhava na chácara, ia para escola e quando voltava continuava a estudar", recordou.



BARRACÃO
Na chácara onde morava existia um barracão antigo e já deteriorado pelo tempo. Mas foi naquele espaço que Motooka criou seu cantinho de estudo e, com livros emprestados, começou a se preparar para passar nas provas das Forças Armadas. "Era um barracão muito velho que meus avós usavam para guardar diversos materiais. Como já estava limpando a chácara, eu terminava e ficava por ali mesmo. Além de ser sossegado, era um local que eu não teria distrações, era somente para o estudar."

Quando começou a cursar o colegial, fez a prova para a Aeronáutica. Porém, o resultado não foi o esperado. "Eu vinha estudando bastante, passava até oito horas dentro do barracão. No entanto, quando saiu o resultado, ele não foi positivo. Não consegui passar. Era muito concorrido e a prova era bem difícil. Naquele tempo já existiam cursos preparatórios específicos para esses exames. Mas como vinha da escola pública e estudava sozinho, o desafio era ainda maior", ressaltou.



ACADEMIA
Como estudava com foco na carreira militar, Motooka resolveu tentar a Academia de Polícia Militar do Barro Branco, que forma aspirantes a oficiais para atuarem no Estado. "Com 17 anos eu prestei a prova. A concorrência era grande e a prova difícil, mas consegui passar. Lá eu concluí o colegial e depois de cinco anos saí como aspirante a oficial. Lembro-me que eu consegui entrar no limite, pois tenho 1,66 de altura, quase o mínimo permitido na época", brincou.

Em 1992, Motooka se formou aspirante a oficial. Foi promovido a segundo e primeiro-tenente, depois capitão e hoje é major da PM, atuando em Araçatuba há mais de dez anos. "Quando me formei, fui trabalhar em São Paulo. Depois de um tempo, fui comandante de companhia nas cidades de General Salgado e Penápolis, e também tive uma curta passagem por Birigui", detalhou.

Hoje, casado, pai de um filho, graduado em psicologia e direito, e com mestrado e doutorado ligados à área de segurança pública, Motooka também é responsável por um projeto inédito dentro da corporação que visa prestar um apoio psicológico aos alunos recém-formados. "Esse projeto nasceu de uma pesquisa que fiz para o meu doutorado. Ele está em fase de estruturação, mas já começou a ser implantado em Pirituba e no Barro Branco", disse.

INFLUÊNCIA
Por conta de sua persistência e trajetória de sucesso, alguns familiares também seguiram a carreira militar. "Tenho uma irmã que é cabo, dois primos capitães e um que é sargento. De certa forma, acredito que tenha influenciado na escolha pela carreira policial e me sinto honrado por isso. Para que consigamos vencer na vida, seja em qualquer área, precisamos, em algum momento, da ajuda ou do apoio de alguém. O estudo é primordial para se mudar uma realidade, mas com o apoio, tudo se torna menos difícil", concluiu.


Reportagem: Victor Ferreira
Fotos: Alexandre Souza
Edição: Aline Galcino

Folha da Região

"Vitória pela Educação" é uma série desenvolvida pela Folha da Região, jornal de Araçatuba que circula em 40 cidades do Noroeste Paulista.

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