Após escolas públicas, o primeiro lugar na USP




O estudante Adalberto Gomes da Silva Júnior, de 17 anos, de Araçatuba, lembra que costumava sonhar sobre estudar em uma sala das principais instituições de ensino superior do País. Na última semana, ele deu um passo - largo - em direção à realização.

Ao consultar os resultados do Sisu (Sistema de Seleção Unificada), descobriu que não só havia sido aprovado para o curso de engenharia química da USP (Universidade de São Paulo) de Lorena (a 706 km de Araçatuba), considerado um dos melhores da área como ficou em 1º lugar da seleção na categoria voltada para candidatos que concluíram o ensino médio em escolas públicas até 2017. A média dele foi 772,68 e a nota de corte, 730,13.

“Eu fantasiava sobre entrar na USP, mas primeiro lugar nunca passou pela minha cabeça. Quando eu vi, foi um misto de surpresa e choque, principalmente para quem sempre estudou em escolas públicas do Interior e, de repente, está na maior do País”, afirma. O estudante também está nas listas de aprovados da Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Araraquara (a 293 km de Araçatuba) e da USP pela Fuvest, divulgadas em 02/02/2018. Lorena continua a ser a prioridade.


EDUCAÇÃO
Adalberto mora no Conjunto Habitacional Doutor Antônio Villela Silva e já estudou na Emeb Profª Maria de Freitas Souza e na Escola Estadual Prof° Genésio de Assis, além de concluir os três anos do ensino médio na Etec (Escola Técnica) de Araçatuba.

Para Adalberto, alunos da rede conseguem absorver conhecimento. Ele também defende que a oportunidade por meio de cotas sociais ajuda no ingresso em instituições de ensino superior, porém o esforço precisa ser dobrado. “É aquela coisa: se você não teve a sorte de nascer em berço de ouro, tem que correr atrás.”

Ele acredita que a qualidade da educação oferecida pela Etec e o trabalho dos professores contribuíram para os resultados dele nos vestibulares. A escola foi a única da rede pública regional entre as 20 com a média mais alta do Enem, com base nos dados mais recentes a serem divulgados pelo MEC (Ministério da Educação), referentes a 2015. Com uma média de 613,44, calculada com base nas notas de linguagem, matemática, ciências humanas, ciências da natureza e redação, a Etec também teve a 20ª maior pontuação na rede estadual de São Paulo.

Adalberto também atribui seu êxito ao apoio da família. Ele se recorda que tanto o pai, o guarda municipal aposentado Adalberto Gomes da Silva, 58, e a mãe, a auxiliar de açougue Carmen Lúcia da Silva Gomes, sempre acompanharam seus estudos e o estimularam a persistir. “Quando a gente consegue algo, não é só da gente. Penso que meus pais foram fundamentais.”


EXATAS
De acordo com a família, o jovem sempre teve boas notas no boletim. Ele carrega um gosto pela matemática desde a infância - incentivado por brinquedos que estimulavam a lógica. “O ato de você ter de racionar e descobrir a solução de algo é fundamental na área. Isso me atraía bastante”, diz Adalberto. O interesse por disciplinas de exatas o conduziu à engenharia química. Todos os vestibulares que prestou foram para esse curso. “É uma área ampla, com um bom mercado e que envolve tudo que eu gostava: química, física, matemática e algumas partes de biologia.”

O estudante pretende se especializar na área de bioquímica e medicamentos. Ele acredita que trabalhar pelo lucro quando se formar será importante, porém, atuar em algo que permita cuidado com seres humanos e a realização de mudanças na sociedade é essencial. Adalberto acredita que o fato de ter estudo em escolas públicas contribui para a vontade de trabalhar para ajudar outras pessoas. “Você tem contato com diferentes camadas da sociedade, vê o universo de quem mais precisa.”

Adalberto revela que tentou aproveitar ao máximo as aulas do ensino médio e, quando necessário, complementava com estudos em casa. Ele também fez o cursinho pré-vestibular do Daca (Diretório Acadêmico Professor Carlos Aldrovandi), projeto social da Unesp de Araçatuba.

O pai do estudante acredita que o filho terá um futuro brilhante. “Vejo nele um exemplo de vida.” A mãe acredita que Adalberto seja um exemplo de que é possível o estudante ter grandes conquistas mesmo em escolas públicas, se ele se esforça e tem familiares presentes. “Não adianta colocar o filho em uma escola particular e largá-lo. Quem faz o aluno não é só a escola, é ele próprio e os pais.”

Texto: Rafaela Tavares
Fotos: Alexandre Souza - 31/01/2018
Edição - José Marcos Taveira

Folha da Região

"Vitória pela Educação" é uma série desenvolvida pela Folha da Região, jornal de Araçatuba que circula em 40 cidades do Noroeste Paulista.

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